sábado, 21 de abril de 2012

Matéria de Carlos Ávila sobre a Dubolsinho

19/04/2012 - Carlos Ávila - Revista Eletrônica DomTotal

Dubolsinho a todo vapor

O editor Sebastião Nunes tem como objetivo lançar literatura para crianças
Desde 2000, quando fundou as Edições Dubolsinho, o escritor e artista gráfico Sebastião Nunes (que, curiosamente, deforma e transforma o próprio nome, assinando Sebastunes Nião, Bastião Num, Sebastião Nuvens etc.) vem editando livros voltados, principalmente, para o público infantojuvenil, mas também para adultos. São, em geral, volumes muito bem realizados, com programação gráfica do próprio Sebastião e, muitas vezes, com ilustrações dele, criadas em computador ou “apropriadas” de antigas vinhetas ou alfabetos de bichos (Joseph Baltazar Silvestre, Paris, 1843) e pessoas (Jo. Theodor & Jo. Israel de Bray, Frankfurt, 1596) - ou ainda de um alfabeto ornamental anônimo (Alemanha, século 15).

Recursos que Sebastião já utilizou bastante nos seus próprios livros de poesia (reunidos na Antologia Mamaluca), de prosa (Somos todos assassinos, História do Brasil etc.) e infantis; ele já publicou em torno de vinte títulos. Publicitário durante muitos anos, hoje Sebastião (ou Tião, como é conhecido entre os amigos) se dedica apenas a escrever, ilustrar, diagramar e editar. Morando em Sabará (MG), emprega a maior parte do seu tempo na Dubolsinho, mas também escreve uma coluna aos domingos no jornal “O Tempo”, de Belo Horizonte.

Agora, de uma só vez, Sebastião lançou pela Dubolsinho um conjunto de oito livros. Um de poesia – Lua Gorda, de Rita Espeschit; dois de crônica - Casa aberta, do letrista Fernando Brant e Conversa mole, vida dura do escritor Manoel Lobato, e quatro infantojuvenis: Porquinho-da-índia de Drummond Amorim, Fábulas entortadas de Israel Jelin, A menina, o monge e o relógio de Maria Cláudia Siqueira Garcia e O outro lado do caleidoscópio de Oscar Bessi Filho. Completa o conjunto O assinalado: a trágica vida de Cruz e Souza, biografia do importante poeta simbolista escrita por Ivana Versiani, com ilustrações de Fausto Prats.

O que se depreende é que a Dubolsinho está a todo vapor, atacando em todas as áreas, embora ainda com ênfase na literatura infantojuvenil. Todos os volumes trazem a “digital” do editor, ou seja, a aposta na criatividade e no apuro gráfico-visual, incluindo uso de cores, não só nas capas, mas também no “miolo” de alguns dos livros, afora as suas já conhecidas e marcantes bossas: vinhetas, pequenos símbolos e figuras ao lado dos números das páginas, capitulares de antigos alfabetos, enfim, detalhes que são a marca registrada de Sebastião, um raro conhecedor e curtidor de tipos e fontes, da história da escrita e das artes visuais.

No conjunto de títulos há boas surpresas. Por exemplo, a “volta” da mineira Rita Espeschit (há anos radicada no Canadá) à poesia, com suas ironias mordazes e um, às vezes, ácido humor feminino; um Fernando Brant que busca palavras não apenas para preencher sonoridades em canções populares, mas para dizer de seu “sentimento do mundo”, observando simplesmente o cotidiano (morte, vida, encontros e despedidas); um Israel Jelin que “entorta” e vira do avesso conhecidas fábulas, vidas de bichos e de homens, ao ponto de fazer La Fontaine “revirar-se no túmulo”, como ele próprio reconhece; e, ainda, a dedicada Ivana Versiani que elabora uma biografia de Cruz e Souza em linguagem clara e acessível a todos, acompanhada por uma pequena, mas certeira, seleção de poemas do poeta negro catarinense, filho de escravos alforriados (um dos mais importantes simbolistas brasileiros, ao lado de Alphonsus de Guimaraens e Pedro Kilkerry). O poeta dos violões que choram em aliterações em V: “vozes veladas, veludosas vozes,/ volúpia dos violões, vozes veladas,/vagam nos velhos vórtices velozes/dos ventos, vivas, vãs, vulcanizadas”. Este poema está incluído na seleção de Ivana.

Enfim, a Dubolsinho, comandada com firmeza e sensibilidade por Sebastião Nunes, segue adiante, mantendo seu ritmo editorial e a qualidade de seus lançamentos. Já são doze anos de contínua atividade cujo “objetivo principal é editar bons livros de literatura para crianças, jovens e adultos”. Os oito títulos agora lançados confirmam que o objetivo vem sendo mantido e alcançado. Trata-se, com certeza, de um projeto vitorioso na cena literária contemporânea.

Carlos Ávila é poeta e jornalista, autor, entre outros, de Bissexto sentido e Poesia pensada. Foi editor do Suplemento Literário de Minas Gerais por quatro anos (1995/1998) e, atualmente, trabalha na Rede Minas de Televisão. Ainda este ano estará lançando seu primeiro livro infantil, Bri Bri no canto do parque, pela Scipione, e uma nova coletânea de poemas, Área de risco, pela Lumme ambas editoras de São Paulo.

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